Parecia uma terça tranquila, o anoitecer do dia 20 de maio apontava e pela primeira vez me atrasaria para o trabalho no santuário dos livros da universidade. Eu havia engolido ás pressas um lanche que a materna Cassy preparara para que eu não saísse de estomago vazio. Quando me despedia Nath, preocupada com a situação, disse que me acompanharia, a final seria mais fácil conseguirmos carona: - Não vou deixar você sozinha, Pim.
Senti um imenso alívio, mas não pude deixar de pensar que aquela atitude custaria pelo menos três minutos do meu tempo, ela teria de se vestir. Me acalmei lembrando que tendo a companhia de Nath, Dércio e João não questionariam meu atípico atraso.
Nath colocou rapidamente um jeans e uma blusinha preta colada no corpo, sob o colar de coquinho.
Nós seguimos. Dispensamos uma carona que nos deixaria na pracinha que meava o caminho. Não era suficiente para nossa insaciável pretensão em chegar á universidade de carro.
Quando andávamos, havíamos andado pouco, divisei um cross fox vermelho, aparentemente novo, parado em frente a um escondido bar. O motorista era um jovem garoto.
- Pra onde você está indo? Pode nos dar uma carona?
Disparei de imediatas duas perguntas.
- Estou indo pra lá. Ele acenou e nos mostrou o caminho oposto. – Pra onde estão indo?
- Pra Universidade.
Respondi desapontada. Nath que não me vira falar com o rapaz começava a se aproximar para entender o curto dialogo.
- Bora! Eu levo vocês lá.
Acho que ele nem concluiu a frase quando me sentei no banco de trás. Estou atrasada, não posso perder esta carona! Pensei, enquanto Nath fazia o mesmo e o jovem rapaz seguiu o caminho da universidade.
Já havíamos passado pela pracinha do midway. Me espantei ao ver que ele não seguiu o caminho convencional. Ele mora na cidade, sabe o que faz! Pensei acalentando-me.
Divisei o Irmaozão, um ginásio na saída para Rio Tinto, se ele dobrasse a esquerda tudo estaria dentro dos conformes e ele dobrou. Seguiu pela estrada íngreme e sinuosa no lado direito do ginásio. Há tempos não vira algum carro seguir aquele caminho pouco atraente.
Estava escuro, a terra molhada da chuva recente envolvia os pneus e agia fortemente como uma força de atrito, até que ouvimos um sonoro estrondo. Um dos pneus da frente estava submerso na lama e o carro estava dentro de um buraco.
Fiquei irrequieta sem saber o que estava acontecendo. Percebemos que um carro que estava parado a frente havia enfrentado situação semelhante e graças aos moradores tão prestadores das redondezas, havia se livrado. Ao notar nossa situação, os ocupantes do carro recém ajudado agora ofereciam ajuda.
- Não acredito que isso esta acontecendo. Exclamou nosso condutor.
Ó meu Deus. Nem eu! Pensei na sequência.
Todos insistiam para que eu e Nath descêssemos do carro para aliviar a pressão do peso do carro sobre a lama. Resisti afinal eu era a culpada pelo ocorrido. Então desci com a idéia fixa de cavar com minhas próprias mãos e arrancar o carro do buraco. Eu piorei tudo fazendo com que o pneu se enrolasse mais na lama.
Nath continuou a subida com o casal do carro á frente, em busca de ajuda. Não posso deixar de citar o detalhe de seu pé coberto de lama, e eu? Eu estava toda suja; as mãos, os pés, o rosto.
O carro estava agora repleto de arranhões e lama. Notei que ele estava mais calmo que eu. A culpa me agarrou mais forte quando o escutei comentar que tinha lavado seu carro antes daquele incidente. Eu não parava de me desculpar.
Dércio, meu companheiro de trabalho, me telefonou para informar que se atrasaria e eu teria de abrir a biblioteca na ausência de João, que não iria para a biblioteca. Com o meu desespero o jovem insistiu para eu subir e cumprir minha razão. Eu não conseguia desvencilhar a culpa, tampouco o sentimento de impotência diante a um evento que jamais imaginei me acontecer.
Fiz o que ele me pediu, o deixei literalmente imerso em problemas, sem saber como findar de maneira amena aquele incidente.
Quando em fim firmei os pés na universidade vi Nath, que me informou que um trator iria de encontro ao jovem benévolo motorista para resgatar seu carro.
Nunca mais tivemos notícias deste rapaz cujo nome eu seria incapaz de citar.
Mamanguape.
20/05/09
domingo, 28 de junho de 2009
Assinar:
Comentários (Atom)